A perspectiva de um cenário externo desfavorável, ajuste fiscal nos governos federal e estadual, bem como o aperto monetário via taxas de juros devem manter o cenário de baixo crescimento no Brasil e no estado em 2015. A projeção é do economista da CDL Porto Alegre, Gabriel Torres.
De acordo com Torres, para o País e o Estado atingirem um maior ritmo de crescimento econômico em 2015 seria necessário colocar em prática as reformas tributária, previdenciária, da administração pública e política que até o momento foram adiadas. “No entanto, as reformas precisam agir sobre as causas dos nossos problemas, como a simplificação das regas tributárias, mudança para um regime previdenciário de capitalização e fim de privilégios a funcionários de determinadas atividades seriam alguns pontos a serem modificados”, estima.
No que se refere à inflação, câmbio e juros, Torres destaca que o quadro para os preços em 2015 é de manutenção da pressão de alta, mas com causas distintas das que ocorreram no último ano. Em vez da demanda e mercado de trabalho bastante aquecidos neste ano a pressão ocorrerá via Taxa de Câmbio e recomposição dos preços monitorados pelo governo.
“A pressão sobre o câmbio merece destaque especial pela mudança nas taxas de juros na economia americana, que cria pressão para a saída de dólares na economia doméstica. Conjugadas com a baixa confiança em nossa economia, o cenário base é de elevação do Dólar (hoje em R$ 2,89 para o final do ano)”.
Desta forma, de acordo com Torres, o Banco Central será obrigado a manter a elevação da Taxa de Juros (SELIC) até aproximadamente 12,75% em 2015. Contudo, caso a pressão do mercado externo seja menor, e a economia interna melhore com ajuste nas contas públicas será possível terminar o ano com juros menores (11,75%).
Assim, o impacto dessas variáveis sobre o Varejo provavelmente será negativo. Inflação e câmbio deverão seguir pressionados, encarecendo o preço dos bens ofertados pelo segmento. Como consequência, o aumento dos juros encarecerá o crédito e dificultará que o consumidor aumente suas despesas além do ritmo do ano passado.
O economista da CDL afirma que os efeitos da Renda das Famílias, considerando Renda do Trabalho e Transferências, deverão ser neutros em 2015 sobre o ritmo de crescimento do Varejo. “O Mercado de Trabalho apresenta sinais claros de esfriamento, com crescimento da taxa de desemprego em relação ao mesmo período do ano anterior. Apesar de se manter em patamar historicamente baixo, o número de pessoas ocupadas caiu”.
Com relação ao crédito, Torres considera que, apesar do crescimento das concessões de crédito livre às pessoas físicas encerrarem 2014 com ritmo positivo, é improvável que essa velocidade se mantenha neste ano. Assim, o crédito deve apresentar efeitos neutros sobre o crescimento do comércio varejista. “A desaceleração deve continuar, ainda que se mantenha perspectiva de variação positiva para o nosso cenário base (+1,21% para o Brasil e +0,73% para o RS). O aumento dos juros e a incerteza do consumidor quanto ao mercado de trabalho devem frear a demanda por mais crédito”.
Já os registros de inadimplentes chamam a atenção, uma vez que em ambientes de baixo crescimento, inflação e juros altos as famílias têm mais dificuldades em honrar suas dívidas na data de vencimento. “Nossa projeção é que as Inclusões devem crescer 4,73% no Brasil e 5,53% no Rio Grande do Sul. Considerando que a perspectiva para as Exclusões deve ser de baixa expansão, algo em torno de 1,92% e 1,6% para o País e RS, respectivamente, o saldo de inadimplentes dentro do SCPC deve crescer em 2015, dificultando a tomada de crédito por parte das famílias e agindo negativamente sobre o varejo em 2015”, destaca o economista.
O último ponto abordado por Torres diz respeito ao varejo e ao consumo das famílias. Com a inflação alta e o aumento nos juros, o consumidor terá dificuldades em expandir seu consumo e optará por priorizar bens de maior necessidade. Assim, o cenário base aponta que o vVrejo apresentará baixo crescimento em 2015, próximo a 0,77% no Brasil e 0,34% no Estado. “Este ano se mostra como um desafio para o comércio varejista. Para ampliar seu desempenho, será necessário investir forte no controle de custos a fim de obter ganhos de eficiência internamente. Conjuntamente, é preciso ampliar ações de treinamento, preferencialmente com funcionários de excelente desempenho para concomitantemente reduzir despesas”.
Torres finaliza apontando que, com o menor crescimento do consumo de bens e maior restrição ao consumo de serviços, o consumo total das famílias acaba penalizado e dificilmente será mais elevado que em 2014. “Desta forma, o Índice de Consumo das Famílias CDL POA deve apresentar leve variação negativa, com -0,6% em nosso cenário base”.
Fonte: BH Comunicação