Como cada consumidor percebe a inflação?
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SETEMBRO, 2020
Notícias
Diante do encarecimento considerável de alguns produtos, muitas pessoas afirmam que as estatísticas de inflação não capturam as variações efetivas de preços da economia. Para entender um pouco mais sobre essa aparente dicotomia, é fundamental analisar como os indicadores são construídos.
O primeiro passo diz respeito à obtenção da representatividade das mercadorias. Aqui recorre-se à Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do IBGE, referente ao biênio 2017-2018. Os resultados desse levantamento mostram como um brasileiro médio aloca seus gastos entre diversas alternativas. Também servem para ponderar o valor aquisitivo dos 355 itens averiguados pelo IPCA na ponta final.
O gráfico a seguir evidencia o peso dos nove grupamentos principais do índice em agosto. Quatro deles correspondem a mais de dois terços do total: alimentos e bebidas, transportes, habitação e saúde.
O segundo procedimento envolve a medição da variação dos preços de um mês para o outro. De posse das duas informações, é factível calcular a influência de cada artigo. A metodologia descrita, portanto, contempla o fato de que alterações nos desembolsos de bens e serviços mais relevantes geram impactos proporcionalmente maiores no poder de compra da moeda.
Todavia, as cestas de consumo muitas vezes diferem amplamente entre os indivíduos. Os vegetarianos, por exemplo, não são afetados por altas nas carnes. Se, da mesma forma, o colaborador vai até seu local de trabalho de bicicleta, pressões sobre combustíveis não exercem efeito direto nas próprias despesas, embora o custo dos fretes seja atingido negativamente. Temos, também, o caso do sujeito que está investindo em capital humano, e que provavelmente se beneficiou dos recentes descontos nos cursos regulares, determinados pela suspensão das aulas presenciais.
Logo, o sentimento com relação à inflação pode ser completamente desigual de cidadão para cidadão, dado o tipo e o respectivo grau de dispêndio. Ou seja, não há nada de errado com os cômputos do IBGE.
*Conteúdo exclusivo – Oscar Frank, economista-chefe da CDL POA
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