07
DEZEMBRO, 2020
Relatório FOCUS: as últimas previsões para a economia brasileira
PIB: o prognóstico para 2020 passou de -4,50% para -4,40% ao longo dos últimos sete dias, ao passo que o crescimento esperado para 2021 subiu de +3,45% para +3,50%. Na terça-feira, dia 02, o IBGE revelou a leitura do terceiro trimestre: ganho de +7,7% frente ao período imediatamente anterior, na série com ajuste sazonal. A despeito do incremento ter frustrado alguns especialistas, a métrica que compara a variação ante igual intervalo de 2019 (-3,9%) veio praticamente em linha com o consenso de mercado do Relatório FOCUS (-3,8%). No entanto, cremos que o movimento altista foi causado pela revisão nas estatísticas de 2019 (de +1,1% para +1,4%) e do primeiro semestre de 2020 (de -5,9% para -5,6%).
Inflação e Taxa SELIC: o IPCA computado para 2020 teve forte aceleração, de +3,54% para +4,21%. O nível corrente supera a meta de 4,00%, porém segue dentro da tolerância permitida (até 5,5%). A correção foi deflagrada pela alteração nas projeções do índice oficial de preços em novembro (de +0,62% para +0,77%) e dezembro (+0,67% para +1,17%). Aqui, julgamos que a adoção da bandeira vermelha patamar 2, que introduziu a cobrança de uma tarifa R$ 6,243 a cada 100 kWh consumidos desde o dia primeiro, motivou, ao menos em parte, essa dinâmica.
Para 2021, houve queda de +3,47% para +3,34%. Entendemos que a mudança é produto da acomodação do choque sobre a despesa com energia no calendário 2020, e não mais em 2021. A notícia tem implicações sobre os juros, pois enquanto as previsões do IPCA estiverem inferiores ao objetivo de +3,75% para o ano que vem, o Banco Central preservará sua estratégia de promoção de estímulos excepcionalmente elevados.
Taxa de câmbio: a B3 mostra que, em novembro, R$ 33,3 bilhões foram depositados na Bovespa via estrangeiros. Trata-se do maior ingresso já registrado em 2020, o que ajuda a explicar a apreciação da moeda no mês. Acreditamos que a moderação da incerteza, proporcionada pelas novidades sobre vacinas para a COVID-19, e o encaminhamento do processo eleitoral americano contribuíram para esse fluxo de capitais direcionado aos emergentes.
A visão da OCDE acerca do panorama
De acordo com a OCDE, os novos surtos de COVID-19 na Europa e nos Estados Unidos, responsáveis pela imposição de restrições parciais ao funcionamento de certos segmentos, fundamentaram a redução das perspectivas econômicas mundiais em 2021. Agora, a expectativa é de que o PIB global aumente +4,2% no ano que vem, e não +5,0%.
Logo, o total de bens e serviços fabricados ao final de 2022 deve ficar aquém do cenário de antes da crise em determinadas regiões. Isso significa que, em função de uma diminuição da oferta, é possível que os custos se mantenham pressionados.
Apesar do sucesso das imunizações propostas para o coronavírus, a aplicação não deve ocorrer rapidamente junto à população. Consequentemente, o avanço da pandemia em localidades específicas pode limitar a expansão da renda. A tendência é de que mobilidade das pessoas continue comedida, resultando na retomada heterogênea entre os setores, de modo que as categorias que dependam de interação social sofram mais com a situação. Outro elemento benigno diz respeito aos incentivos fiscais.
No tocante ao Brasil, o acréscimo aguardado da atividade caiu de +3,6% para +2,6% em 2021, sucedendo a retração de -6,0% em 2020. Caso as estimativas venham a se confirmar, incluindo os +2,2% em 2022, o recuo acumulado nos três anos em consideração atingirá -3,4%.
Por um lado, o IPCA deve encerrar 2021 abaixo da meta. Por conseguinte, a política monetária estimulativa, que barateia os empréstimos, será um importante catalisador dos investimentos. Por outro, a resposta dada pelo governo para amenizar a recessão exacerbou as vulnerabilidades relacionadas à sustentabilidade das contas públicas, a partir da ampliação substancial da dívida. Nesse âmbito, é essencial que os gastos adicionais aprovados no “Orçamento de Guerra” não sejam permanentes, mas transitórios.
Por fim, o arrefecimento do ímpeto reformista representa um risco relevante, diante do impacto negativo de impasses políticos sobre o crescimento potencial e os déficits.
Análise do PIB do Brasil no terceiro trimestre de 2020
Sumário executivo: o nível de atividade nacional devolveu, entre julho e setembro, uma fração da perdas acumuladas de 11,0% ao longo do primeiro semestre do ano. Entendemos que a flexibilização lenta e gradual dos negócios no âmbito doméstico e estrangeiro, combinada com as medidas postas em marcha pelo governo federal nos campos fiscal, monetário e de crédito, foram essenciais para explicar o resultado. Ademais, as estatísticas apresentam grande dicotomia setorial: indústria e comércio performaram acima da média, ao passo que o ímpeto dos serviços foi menor. A renda, todavia, seguiu 4,1% inferior à registrada nos três últimos meses de 2019, ou seja, antes da manifestação das consequências do novo coronavírus sobre a economia.
Visão geral: o PIB do Brasil cresceu +7,7% no terceiro trimestre contra o período imediatamente anterior, após os ajustes sazonais, de acordo com o IBGE. Trata-se do melhor desempenho desde o início do levantamento, em 1996. No entanto, a alta precisa ser relativizada, pois decorreu de uma base de comparação deprimida. Hoje, o patamar da série encontra paralelo com o começo de 2011, permanecendo 7,3% aquém do pico notado no primeiro trimestre de 2014.
Pela ótica da oferta, o comércio (+15,9%) e a indústria (+14,8%) foram os principais destaques. Além da injeção maciça de liquidez e das políticas públicas de apoio às empresas, houve uma realocação dos desembolsos dos consumidores de serviços para bens. Da mesma forma, cremos que alternativas como delivery, take away e e-commerce, no primeiro caso, e as vendas externas, incentivadas pela depreciação cambial, no segundo, foram positivas. Especificamente a respeito do segmento terciário (+6,3%), muitas categorias, dependentes de interação social, ainda sofrem severas restrições ao seu funcionamento, o que ajuda a justificar o avanço mais contido.
No que se refere à demanda, os dispêndios das famílias se expandiram 7,6%. O intervalo foi marcado pela estabilização do emprego e pela continuidade do auxílio emergencial, destinado às classes mais pobres. Já a formação bruta de capital fixo – máquinas, equipamentos e ampliação das plantas produtivas – subiu 11,0%: embora o panorama atual seja caracterizado pela ociosidade de mão de obra, indicadores relacionados ao parque fabril sinalizaram estoques diminutos, o que pode ter deflagrado esse movimento. Por sua vez, as despesas do governo aumentaram +3,5%, em função das ações para amenizar os impactos da crise.
Por fim, as exportações tiveram recuo de -2,1%, enquanto as importações contraíram -9,6%. Sobre o comportamento dos embarques, é fundamental ressaltar que diversas localidades no mundo também padecem dos efeitos da pandemia. No tocante às compras de outras nações, o encarecimento do Dólar frente ao Real, em grau superior ao de várias moedas, desencorajou esse tipo de aquisição.