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OUTUBRO, 2020
Relatório FOCUS: as últimas previsões para a economia brasileira
Atividade econômica: a projeção para o PIB do Brasil em 2020 sofreu um ajuste residual nos últimos sete dias: de -5,03% para -5,00%. Essa “despiora” aconteceu apesar do resultado do Índice do Banco Central de agosto, cuja finalidade é a de aproximar o Produto Interno Bruto via combinação de informações setoriais – a alta de +1,06% ante julho, descontados os efeitos sazonais, veio aquém do consenso dos analistas, que esperavam avanço de +1,70%. Para 2021, o crescimento antevisto para o Brasil caiu pela primeira vez após cinco meses de estabilidade: de +3,50% para +3,47%.
Preços: da mesma forma que no Relatório do dia 13/10, a mudança mais importante ocorreu nesse conjunto de indicadores. Tanto o IPCA (de +2,47% para +2,65%) quanto o INPC (de +3,18% para +3,39%) de 2020 aceleraram de maneira relevante. Há pouco o governo determinou a zeragem temporária do imposto de importação incidente na soja e no milho, com o intuito de conter o encarecimento dos alimentos. A tendência, contudo, é de que o grupo de bens em consideração continue pressionado no curto prazo, fruto do impacto da depreciação do Real sobre o atacado e dos ganhos das commodities. Paulatinamente, o desequilíbrio entre oferta e demanda, diante dos sinais existentes, será atenuado. Para 2021, o cômputo do IPCA (3,02%) segue inferior à meta (3,75%).
Taxa SELIC: as amplas injeções de liquidez promovidas em escala global e a grande ociosidade doméstica representam dois dos alicerces essenciais para a manutenção da política vigente de estímulo ao crédito, à renda e ao emprego. Elemento igualmente basilar da estratégia diz respeito à conservação do regime fiscal, além de cortes de gastos visando a moderação da inflação.
Taxa de câmbio: a cotação deve registrar volatilidade nas próximas semanas, refletindo o acirramento da disputa pela Casa Branca nos Estados Unidos, a evolução do novo coronavírus na Europa e a costura do acordo entre Republicanos e Democratas por medidas adicionais de estímulo à economia americana. Tivemos também a volta da atuação do Banco Central desde 28 de setembro: na terça-feira passada, foram vendidos US$ 560 milhões à vista. Essa ação evidencia certo desconforto da autoridade monetária com níveis que ultrapassem R$ 5,70.
A visão do Banco Mundial acerca do Brasil
Panorama e perspectivas: a estimativa para o PIB de 2020 foi revisada de uma queda de -8,0% para -5,4%. Essa reavaliação, no nosso caso, decorreu da extensão do apoio direcionado às famílias, juros historicamente baixos e o afrouxamento do distanciamento social. A recuperação, no entanto, permanece heterogênea, afetando, sobretudo, os serviços vinculados à interação pessoal. Em 2021 (+3,0%) e 2022 (+2,5%), o viés acusado é de devolução gradual das perdas de 2020.
Desafios: retomada depende da situação sanitária, de modo que um eventual incremento da contaminação por COVID-19 pode deflagrar quarentenas no Brasil e no resto do planeta, restringindo o canal do comércio com o exterior e os fluxos internacionais de recursos. Outro problema envolve a reinserção dos trabalhadores sem ocupação ao mercado, em especial os informais. A partir do ano que vem, a margem de manobra no campo fiscal reduzirá, tornando premente a busca pelo aumento da eficiência da despesa e a sustentabilidade da dívida em horizontes longos.
Fatores positivos: expectativas de inflação controladas, bancos capitalizados e o montante de reservas em dólar, capazes de ajudar na absorção de choques negativos intensos.
Avaliação do Índice do Banco Central (IBC) de agosto de 2020
Definição: o IBC é formado por indicadores de curto prazo dos três grandes ramos – agropecuária, indústria e serviços –, além de variáveis específicas sobre a ocupação, construção civil, entre outras. Trata-se de uma aproximação (proxy) do PIB, ou seja, é um termômetro da atividade econômica.
Análise: a tabela abaixo sintetiza os números do IBC de agosto. São cinco comparativos, de modo que a último (ago20 / fev20) configura a diferença em relação ao patamar verificado antes do início do distanciamento social.
O Rio Grande do Sul sofreu a pior queda entre os 13 estados e as 5 regiões investigadas na variação acumulada do ano (-7,8%) e em doze meses (-5,3%). Apesar de termos devolvido as perdas registradas entre março e abril, o nível da série corrigida sazonalmente continua deprimido, uma vez que já tínhamos o primeiros impactos da seca no campo antes da adoção das quarentenas.
Efeito carregamento: se a renda permanecer estagnada nos 4 próximos meses, o resultado de 2020 ante 2019 será de -5,7%. Esse cômputo fornece indícios sobre a expectativa para o fechamento do ano.
Comentário e perspectivas: a estabilidade da prestação de serviços no território gaúcho preocupa, dado o seu peso na composição do cálculo agregado. Nesse sentido, melhoras adicionais estarão atreladas à desaceleração no preenchimento de leitos de UTI’s para o tratamento de casos graves da COVID-19, viabilizando novas flexibilizações dos negócios. Cremos também que a prorrogação dos programas de preservação de emprego até dezembro favorecerão a economia. Por outro lado, resta saber como o corte do auxílio emergencial pela metade reverberará sobre a oferta e a procura a partir de setembro. Estatísticas do IBGE, contudo, evidenciam que somos a segunda Unidade da Federação que menos solicitou o pagamento.
A sustentabilidade do processo de retomada ainda embute incerteza, pois depende da evolução da questão sanitária. Ademais, a necessária retirada das medidas de amparo do governo federal pode criar dificuldades para alguns empreendimentos e consumidores. Entendemos que a poupança precaucional das famílias ajudará no suporte à demanda até meados de 2021, mas esses recursos tendem a se exaurir com o passar do tempo.