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SETEMBRO, 2020
Relatório FOCUS: as últimas previsões para a economia brasileira
As projeções para o PIB de 2020 voltaram a ficar menos piores nos últimos sete dias. De acordo com o consenso, o tombo aguardado no presente ano é de -5,05%, e não mais de -5,11%. Essa ajuste ocorreu a despeito do avanço inferior ao esperado do IBC – índice de atividade econômica do Banco Central – no mês de julho.
Por sua vez, o IPCA computado para 2020 teve crescimento pela sexta semana consecutiva: de +1,94% para +1,99%. Dado que os cálculos para 2021 seguem praticamente estáveis ao redor de 3,00% há aproximadamente de 3 meses, cremos que a leitura predominante é de que as pressões em alguns grupamentos verificadas recentemente são interpretadas como um fenômeno transitório. Portanto, não devem afetar o panorama benigno antevisto para o ano que vem.
A visão do Comitê de Política Monetária a respeito do cenário
Mundo: por um lado, entre os elementos positivos, estão a continuidade da retomada e o recuo da inconstância nas transações dos mercados financeiros. Por outro, os riscos de baixa abrangem a diminuição dos estímulos governamentais, além da evolução da pandemia. Vale lembrar que determinados países na Europa registraram aumento significativo da contaminação pelo coronavírus, incluindo Espanha, França e Reino Unido.
Brasil: recuperação parcial persevera. Todavia, o processo é desigual entre as categorias, com impactos negativamente destacados para os segmentos mais atingidos pelo distanciamento social, como o terciário.
No tocante à inflação, o entendimento é de que existe uma aceleração no curto prazo, em função do encarecimento dos alimentos e da normalização dos valores de alguns serviços. O quadro evidencia as simulações dos modelos do Banco Central para o indicador oficial de preços em 2020, 2021 e 2022. Conforme o primeiro conjunto de premissas, caso a Taxa SELIC suba paulatinamente em 2021 e 2022, as metas definidas para o IPCA serão cumpridas. Se, no entanto, os juros permanecerem no patamar atual (2,00% ao ano), o resultado para 2022 (3,80%) superará o alvo (3,50%). Logo, acreditamos em certa correção altista da Taxa SELIC, com início entre o encerramento de 2021 e o começo de 2022.
O COPOM também detalhou o instrumento conhecido por “prescrição futura”: a sinalização é de que haverá incremento da Taxa SELIC somente quando as perspectivas para o IPCA (sobretudo em 2021 e, em menor grau, 2022) estiverem perto dos respectivos objetivos.
Por fim, admite-se espaço para quedas residuais dos juros, mas que não são adotadas no momento por uma questão prudencial: níveis muito deprimidos seriam capazes de introduzir volatidade excessiva nas negociações dos ativos, e atravancar, ainda mais, a rolagem da dívida do Setor Público. Julgamos que uma eventual aprovação da reforma administrativa poderá deflagrar esse movimento, fruto da importância da trajetória das contas do governo nesse balanço.
Análise da decisão do COPOM de 15 e 16/09
*Observação: relatório escrito antes da reunião do Comitê.
Apontamentos sobre o panorama:
Atividade e crédito: termômetros dos segmentos mostram que a devolução das perdas decorrentes do distanciamento social são mais fortes na indústria e, principalmente, no comércio varejista. A recuperação dos serviços, ao contrário, é mais lenta, uma vez que diversas categorias não podem recorrer a modalidades alternativas – como delivery ou takeaway – pela sua própria natureza. Pelo lado do setor externo, destaque para a majoração do PIB das exportações no segundo trimestre, sustentadas pelo agronegócio. Tanto a depreciação cambial quanto o apetite da China ajudarão a tornar o enfraquecimento da demanda agregada menos intenso em 2020.
Entre os tópicos de atenção para o futuro estão a redução do auxílio emergencial pela metade, além do pagamento dos impostos federais diferidos pelas firmas.
Preços: as contribuições altistas no IPCA vêm, basicamente, de alimentos e combustíveis. A recuperação das commodities, aliada aos ganhos de rentabilidade nas vendas para o exterior, tem criado escassez de alguns bens. Os indícios acusam que o fenômeno é provisório, o que não comprometerá o equilíbrio do índice. Vale lembrar que a parte estrutural, ligada aos serviços, conserva-se bem-comportada.
Conjuntura internacional: o Banco Central americano aprovou uma importante mudança nas diretrizes que regem o sistema de metas de inflação do país. Agora, na hipótese de que os preços ao consumidor dos Estados Unidos permaneçam reiteradamente aquém de 2,0%, haverá permissão para que o avanço ultrapasse esse patamar nos períodos vindouros, de modo que, na média dessa janela, o resultado seja justamente de 2,0%.
Taxa de câmbio: após os novos balizadores da política monetária dos EUA, a taxa de câmbio apresentou valorização expressiva, saindo de R$ 5,60 para R$ 5,30. Os agentes reprecificaram suas posições ao compreenderem que o nível de estímulo promovido pelo Federal Reserve ao longo do tempo será mais alto do que o antevisto até então.
Fiscal: julgamos que a desistência da instituição do Programa Renda Brasil até 2022 abranda os riscos fiscais no curto prazo, aumentando a chance de cumprimento do teto dos gastos até o término do mandato do presidente Jair Bolsonaro. O desbalanceamento entre despesas e receitas é a ameaça essencial aos fundamentos nesse momento, que auxiliam na manutenção de juros reais deprimidos.
Acreditamos que o COPOM opte pela preservação da Taxa SELIC em 2,00% ao ano.
Confiança mantém trajetória de alta em setembro
Os resultados da sondagem prévia de setembro da FGV evidenciam que o Índice de Confiança Empresarial (ICE), composto de quatro grandes setores (indústria, serviços, comércio e construção), e o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) apresentaram crescimento ante agosto, na série com ajuste sazonal.
No primeiro caso, o incremento foi de 0,8 pontos (de 94,5 para 95,3). Já o segundo avançou 2,1 pontos (de 80,2 para 82,3). Vale lembrar que “100” sinaliza neutralidade: valores maiores em comparação à referência denotam a intensidade do otimismo.
Todas as estatísticas têm dois subcomponentes: situação atual e expectativas. No que tange aos empresários, a avaliação de ambos melhorou: de 88,6 para 91,3 pontos, e de 96,1 para 98,2 pontos, respectivamente. Por sua vez, o vetor do momento presente subiu de 71,5 para 72,8 pontos para as famílias, enquanto a visão para os próximos meses registrou aumento de 87,1 pontos para 89,7 pontos.
A indústria de transformação, por exemplo, devolveu as perdas relacionadas ao bimestre entre março e abril, de modo que o patamar nunca esteve tão elevado desde fevereiro de 2013. Entendemos que uma das prováveis hipóteses explicativas desse fenômeno diz respeito à injeção de caixa determinada pela ampliação da rentabilidade das exportações. Nesse sentido, a combinação entre depreciação da taxa de câmbio e retomada em vários países constitui fator positivo, sobretudo para os estabelecimentos em que as transações com o exterior representam parcela considerável do seu faturamento.
No tocante à construção, a área imobiliária é o destaque, beneficiada pela redução dos juros, o oferecimento da nova modalidade de financiamento com correção pelo IPCA e pelo fato de que os empreendimentos não têm acréscimo real nos preços há cerca de cinco anos.
Os serviços estão com o processo mais lento de recuperação, em linha com os números do IBGE. Muitos segmentos, principalmente os que envolvem aglomerações, permanecem com severas restrições. Além disso, alternativas como a tele-entrega e take away, que ajudaram o comércio, não se aplicam a diferentes negócios do ramo terciário. Por fim, as características inerentes a diversas categorias impedem a comercialização das suas soluções com outras nações.
Manifestamos, ainda, preocupação com a confiança dos consumidores. Cremos que o movimento de setembro teve amparo na prorrogação do auxílio emergencial e dos programas de preservação da mão de obra do governo federal. Todavia, o nível segue bem abaixo frente ao dos empregadores. Aqui, especificamente, o impacto da crise sobre a ocupação consiste num relevante gargalo. É possível, também, que o encarecimento de alguns alimentos e dos combustíveis tenha contribuído para conter ganhos mais expressivos recentemente.