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OUTUBRO, 2020
Relatório FOCUS: as últimas previsões para a economia brasileira
Nível de atividade: a projeção para o PIB do Brasil em 2020 sofreu um ajuste considerável nos últimos sete dias: de -5,00% para -4,81%. Esse movimento foi catapultado pela “despiora” dos números da indústria (de -4,86% para -4,55%) e dos serviços (-5,73% para -5,66%). Uma das hipóteses que podem ajudar na explicação do fenômeno é a sondagem da FGV a respeito do setor secundário, que mostrou maior otimismo, baixos estoques e ampliação da utilização da capacidade instalada em outubro. Tal cenário, portanto, é consistente com o incremento da produção no curto prazo. Para 2021, o crescimento antevisto para o Brasil caiu novamente: de +3,47% para +3,42%.
Preços: a estimativa para o índice oficial de inflação (IPCA) em 2020 acelerou de maneira relevante (de +2,65% para +2,99%). A correção decorre da leitura do IPCA-15 de outubro (+0,94%), cuja metodologia é semelhante a do indicador convencional, e diverge apenas na janela de coleta das informações e na abrangência geográfica. A variação extrapolou até mesmo o patamar mais alto aguardado pelos especialistas, de modo que alimentos e bebidas (+2,24%) e transportes (+1,34%) seguiram pressionados. Acreditamos que o desequilíbrio de ambos os grupos tende a permanecer até o encerramento de 2020, em função do câmbio desvalorizado, da recuperação das commodities e do período de entressafra. Para 2021, o cômputo do IPCA majorou de 3,02% para +3,10%.
Taxa SELIC: os juros transacionados pelo mercado mantiveram trajetória ascendente, fruto da elevação dos preços e das incertezas no campo fiscal. Aqueles com vencimento em janeiro de 2022, por exemplo, saíram de 3,27% ao ano para 3,46% ao ano; os que expiram em janeiro de 2023 saltaram de 4,65% ao ano para 4,89% ao ano. Esses resultados fornecem evidências de um menor espaço para conservar a carga de estímulos via política monetária. Caso as expectativas do IPCA, sobretudo para o ano que vem, se aproximem da meta de 3,75%, o COPOM aumentará a SELIC, conforme as diretrizes estabelecidas em suas manifestações.
A visão da Confederação Nacional da Indústria acerca do Brasil
Avaliação setorial: comércio e indústria lideram o processo de retomada desde maio. No varejo, as transferências de renda destinadas às camadas pobres foram essenciais, lembrando que essa parcela da população apresenta uma propensão superior ao consumo em comparação com os ricos. Além disso, a reabertura gradual dos negócios, a intensificação do uso de plataformas on-line e a substituição de gastos com serviços por bens também foram fundamentais. Por sua vez, muitos recortes do segmento terciário ainda convivem com restrições por conta da situação sanitária.
No tocante à categoria fabril, o coronavoucher e os programas da União designados às firmas, como as linhas de crédito e diferimentos na cobrança de impostos, exerceram influência positiva. Outra característica marcante é a dicotomia entre os itens: enquanto o adiamento da compra de duráveis por parte das famílias é mais fácil, o expediente se torna bem mais complicado para os não-duráveis.
Já os elementos responsáveis pela reabilitação da construção civil incluem o auxílio emergencial, a diminuição do custo dos empréstimos e a consolidação do home office – algo que suscitou adaptações dos ambientes via pequenas reestruturações nos respectivos lares.
Perspectivas: de acordo com a CNI, a queda do PIB no presente ano deverá atingir -4,2%. Após o vigor exibido no terceiro trimestre, o ritmo provavelmente arrefecerá no quarto, diante do corte nos repasses de recursos e das antecipações normalmente pagas ao longo do segundo semestre, como o 13º dos aposentados. Por outro lado, a continuidade esperada da flexibilização do isolamento social constitui fator benigno.
Análise do custo da cesta básica em set/20
Visão geral: o desembolso necessário para a aquisição de mercadorias consideradas vitais subiu notadamente em setembro ante igual período de 2019. Com exceção de Brasília (+6,1%), todas as demais capitais estaduais tiveram altas de dois dígitos: as taxas de crescimento da maioria, inclusive, ultrapassaram 20%. No acumulado do ano de 2020, as variações também são significativas. Os resultados apresentam consistência com a dinâmica recente exibida pelos índices de inflação ao consumidor. Muitos deles, como o IPCA e o INPC, medidos pelo IBGE, estão acusam pressão no curto prazo, justamente em função do comportamento dos alimentos no domicílio.
Além dos efeitos do encarecimento do Dólar em relação ao Real em 2020, que avançou em ritmo superior ao de inúmeras moedas ao redor do mundo, as commodities vêm se recuperando após o tombo verificado no pior momento da pandemia. Trata-se de um movimento que acompanha as perspectivas de retomada dos negócios em escala global.
Entendemos que as políticas adotadas pelo governo para amenizar os impactos do distanciamento social contribuíram para sustentar a demanda, e auxiliam na explicação do fenômeno.
O incremento do valor dos bens essenciais é especialmente nefasto para a população pobre, cujas despesas são proporcionalmente mais relevantes nesse tipo de alocação em comparação com a classe rica. Consequentemente, a diminuição do poder de compra dos rendimentos reverbera negativamente sobre o espaço financeiro das famílias para gastos com outros artigos e serviços.
Expectativa para o futuro: de acordo com as estatísticas do IGP-M, calculado pela FGV, os “produtos agropecuários” no atacado sofreram elevação de 9,41% em setembro frente a agosto, e de 28,82% desde janeiro. A tendência é de que o repasse, ainda que parcial, dos ofertantes para a ponta final prossiga.
Por sua vez, a retirada temporária do imposto de importação incidente sobre a soja e o milho pode ajudar na moderação dos preços, bem como a eventual estabilização da cotação cambial.
Confiança interrompe alta em outubro
A sondagem prévia de outubro, divulgada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), evidencia que o Índice de Confiança Empresarial (ICE), composto de quatro grandes setores (indústria, serviços, comércio e construção), e o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) apresentaram recuo ante setembro, na série com ajuste sazonal. No primeiro caso, a queda foi de 1,1 pontos (de 97,5 para 96,4). Já o segundo caiu 3,9 pontos (de 83,4 para 79,5). Vale lembrar que “100” sinaliza neutralidade: valores maiores em comparação à referência denotam o grau do otimismo.
Todas as estatísticas têm dois subcomponentes: situação atual e expectativas. No que tange aos empresários, a avaliação do primeiro melhorou: de 93,0 para 94,0 pontos. Especificamente sobre o segundo, houve deterioração de 101,0 para 97,2 pontos. Por sua vez, o vetor do momento presente retrocedeu de 72,6 para 70,7 pontos para as famílias, enquanto a visão para os próximos meses registrou regrediu de 91,5 pontos para 86,5 pontos.
COMENTÁRIOS:
Chama a atenção o descolamento entre o sentimento dos proprietários de negócios e as pessoas físicas, numa magnitude inédita nos últimos 10 anos. Do lado da oferta, o destaque é a categoria fabril, cujo patamar nunca foi tão elevado desde março de 2011. Nesse sentido, a taxa de câmbio depreciada é especialmente benéfica para alguns recortes intensivos na exportação. Ademais, os juros baixos desempenham um papel fundamental no barateamento na aquisição de capital. Da mesma forma, os estoques estão aquém do planejado, o que naturalmente gera um impulso benigno à produção.
Os outros ramos sofreram uma reversão na trajetória ascendente, puxada pelo que se espera para os períodos seguintes. Comércio e, sobretudo, os serviços continuam com o processo mais lento de devolução das perdas do bimestre entre março e abril: segmentos não-essenciais e aqueles dos quais existe relevante dependência de interação social permanecem muito afetados. A escassez de diversos insumos / matérias primas provavelmente também ajudou na contenção dos números.
No que diz respeito à demanda, acreditamos que a mão de obra afastada do mercado de trabalho pela crise, a diminuição dos recursos injetados via coronavoucher e a perspectiva de encerramento do programa de transferências do governo em janeiro de 2021, bem como as pressões inflacionárias, particularmente em alimentação do domicílio e transportes, pesam negativamente.
Logo, o descasamento supracitado preocupa, até porque ainda somos bastante fechados às transações internacionais. Isso significa que necessitamos de elementos positivos oriundos da procura interna para sustentar a retomada.