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Relatório FOCUS: as últimas previsões para a economia brasileira
Os analistas de mercado melhoraram, pela nona semana consecutiva, a estimativa para o PIB do Brasil em 2020. Agora, a queda computada é de -5,28%, e não de -5,46%. Cremos que um dos fatores relevantes para essa “despiora” diz respeito ao prolongamento do auxílio emergencial até o fim do ano, de modo que cada contemplado receberá, ao que tudo indica, o pagamento de quatro parcelas extras de R$ 300, que se somam às outras cinco, de R$ 600.
A tabela mostra alguns exemplos de conglomerados financeiros que revisaram suas expectativas positivamente ao longo dos últimos meses. Embora a recessão antevista seja menos aguda hoje, essa, caso venha a se consolidar, será a crise mais profunda em 120 anos de dados do IBGE, ultrapassando os -4,35% de perdas em 1990.
Além do relaxamento das quarentenas em diferentes praças, acreditamos que o impulso fiscal de combate aos efeitos negativos do distanciamento social, superior ao de vários países, foi essencial para explicar o fenômeno em questão. Ademais, o bom desempenho do setor agrícola tem sua parcela de contribuição: segundo a CONAB, a produção da safra de grãos 2019/2020 crescerá 4,8% em relação à passada.
Houve, também, uma grande mudança no que concerne à política monetária americana. De acordo com o comunicado, o Federal Reserve permitirá que a inflação fique acima da meta de longo prazo de 2,0% se o índice de preços ao consumidor permanecer aquém desse patamar consistentemente.
Entendemos que a novidade altera o cenário prospectivo futuro, em função do aumento dos estímulos ao nível de atividade nos EUA. Logo, o panorama de juros extremamente baixos e expansionismo do balanço do FED através da injeção de liquidez (moeda) deverá continuar por mais tempo do que o antecipado anteriormente.
O anúncio reverberou diretamente sobre o Real, que sofreu valorização em comparação com o Dólar. De maneira geral, o impacto sobre a economia brasileira é benigno no curto e médio prazo, no sentido de possibilitar ao COPOM a extensão do período em que a Taxa SELIC estará deprimida. Ganhamos, portanto, maior fôlego para a aprovação de reformas, que ajudem a minorar os riscos que afetam nossos fundamentos.
Análise do CAGED – Julho de 2020
Panorama nacional: em julho, o Brasil criou 131,0 mil postos com carteira assinada. Trata-se do maior número para o período desde 2012 (+142,5 mil). O dado superou, e muito, as expectativas dos analistas, cujas apostas gravitavam entre +10 mil e +25 mil.
Segundo o detalhamento oficial, as contratações aceleraram pelo terceiro mês consecutivo, embora estejam distantes das verificadas em 2019. Cremos que essa melhora gradual encontra fundamento em dois fatores: (1) afrouxamento paulatino do isolamento social em diversas praças; e (2) injeções de liquidez promovidas pelo governo federal, abarcando o pagamento do coronavoucher, antecipação do décimo terceiro salário dos aposentados, expansão do Bolsa Família, entre outras ações que atuam para apoiar a demanda.
Por sua vez, os desligamentos permaneceram abaixo do ano passado. Aqui temos a materialização dos efeitos das medidas de preservação do emprego da MP 936, bem como das políticas de salvaguarda do caixa das empresas, incluindo o diferimento de impostos e acesso às linhas de crédito voltadas para o custeio da folha e/ou capital de giro.
Panorama estadual: o Rio Grande do Sul gerou, em termos líquidos, 1.251 vagas em julho. Da mesma forma que o Brasil, esse também foi o maior saldo desde 2012 (+5.058). Entretanto, frente às demais Unidades da Federação, alcançamos apenas a 18ª colocação no ranking absoluto. Já em relação ao tamanho do estoque de trabalhadores de cada localidade, a situação é ainda pior: 24ª posição (elevação de +0,05% sobre junho).
As informações por categoria de atividade gaúcha evidenciam que a construção (+560) e, principalmente, o restante do setor secundário (+3.639) determinaram o crescimento. Vale lembrar que a indústria perdeu -39,3 mil vínculos de março e julho, o que faz do segmento o mais atingido proporcionalmente entre todos pelas quarentenas. Portanto, é natural que a base de comparação diminuta sirva de esteio aos aumentos na retomada.
Acumulado do ano: entre janeiro e julho, o Brasil fechou -1,092 milhão de postos celetistas. Desse total, 8,70% (-95.036) coube ao Rio Grande do Sul. Tais patamares, em ambos os casos, são os menores desde o início do levantamento mensal, em 2004. Cabe ressaltar que o RS, além de sofrer com os impactos da pandemia, padece de uma severa estiagem, que prejudica as safras de grãos de milho e de soja.
Na discriminação por ramos econômicos, os serviços exerceram influência relevante (-37,2 mil). Na sequência vieram o comércio (-36,0 mil), indústria (-18,0 mil), construção (-3,6 mil) e agropecuária (-0,2 mil).
Custo da cesta básica na Região Metropolitana de Porto Alegre subiu desde fevereiro
Visão geral: desde a instituição das medidas de distanciamento social, adotadas a partir de março, o custo da cesta básica cresceu em quase todas as capitais brasileiras. A variação percentual de julho contra fevereiro só recuou em Fortaleza (-1,8%) e Brasília (-6,6%). Por sua vez, os valores em Porto Alegre subiram +3,7% nesse ínterim, mantendo-se como uma das localidades nas quais a despesa necessária para a aquisição de bens vitais é mais alta: R$ 511,2.
Apesar do impacto da crise sobre a ocupação, o governo agiu intensamente para evitar perdas adicionais da renda disponível da população. Cremos que o auxílio emergencial, focalizado justamente onde existe maior propensão ao consumo (classe pobre), constitui um dos fatores atuantes na sustentação dos avanços nos preços.
Acreditamos, também, que a safra de grãos nacional, cuja oferta deve aumentar +4,8% em relação à passada, ajuda a, por outro lado, limitar o encarecimento dos artigos.
Eventuais descolamentos entre a retomada econômica doméstica e do resto mundo, combinados à manutenção de um câmbio depreciado, tendem a majorar certas mercadorias, como a carne, na nossa visão. Caso tal cenário venha a se materializar, haverá um incentivo para a exportação, tornando o bem mais escasso internamente.
Perspectivas para o futuro: de acordo com as estatísticas do IGP-M, calculado pela FGV, os “produtos agropecuários” no atacado sofreram elevação de 4,80% em julho frente ao mês anterior, e de 17,7% no acumulado do ano de 2020. Alguns componentes da cesta básica, portanto, podem ser pressionados nos próximos períodos com o repasse, ainda que parcial, para a ponta final.