Precisamos falar sobre o comércio “não essencial” – Por Irio Piva
29
MARÇO, 2021
Notícias
O modelo de distanciamento controlado do RS, elaborado pelo governo do Estado, originou um efeito colateral ao criar a categoria de comércio chamada “não essencial”. Incrivelmente, o fato de parte das atividades do varejo ter sido interrompida durante quase seis meses por causa da pandemia, entre 2020 e 2021, pode ainda não ser o resultado mais adverso. É certo que não era essa a intenção das autoridades, mas o termo está provocando uma espécie de interpretação equivocada, como se esses setores pudessem ser descartados. Só que todo negócio é essencial.
Como o empreendedor ou empresário – dedicado a labutar dia após dia para desenvolver e firmar sua marca, manter equipe, pagar salários, impostos, aluguéis – pode entender ou aceitar a não essencialidade do seu trabalho? Coloque-se no lugar dos integrantes da família de alguém, cujo sustento dos seus provém de uma loja (fechada). O que é essencial para ele? Levar o alimento para a mesa é essencial. Ser empático é exercer a nossa humanidade. Diante desse raciocínio e do impacto causado em toda a cadeia, incluindo a geração de empregos, a definição do que é ou não essencial fica muito complexa, nada maniqueísta.
Antes mesmo do mais recente fechamento, entre fevereiro e março, alguns lojistas já estavam em uma situação delicada, pois tinham contraído empréstimos, como o Pronampe, e agora precisam honrar o vencimento da primeira parcela. Faria toda a diferença na busca da recuperação e do equilíbrio nas contas, se os governos federal e estadual implementassem medidas efetivas a fim de reduzir impostos e anular multas ou, ao menos, facilitar a adequação das empresas a esses prazos legais.
Além de tudo, há evidências de que, por seguir todos os protocolos recomendados pelos organismos de saúde, o comércio é seguro. As lojas são ambientes controlados e não propagadores de contaminação. E, ainda, ajudam a desenhar o círculo harmonioso do comércio local, para o qual, finalmente, muitas pessoas passaram a olhar com mais compreensão, respeito e até carinho.
Como em todos os aspectos da vida, equilíbrio e bom senso são imprescindíveis. Saúde e economia podem e devem, sim, ser conciliados.
Irio Piva – Empresário e Presidente da CDL Porto Alegre
*Artigo publicado no Jornal Zero Hora – Edição impressa em 29 de março de 2021.