Recuperação lenta e gradual é a aposta para a economia em 2021
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JANEIRO, 2021
Notícias
O economista-chefe da CDL POA, Oscar Frank, participou, no domingo (3), do programa “Faixa Especial”, da Rádio Gaúcha. Entrevistado pelo jornalista Eduardo Paganella, o economista falou sobre a crise provocada pela pandemia e as perspectivas para 2021. Nos últimos meses, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), do Ministério do Trabalho e Emprego, vem registrando crescimento na criação de empregos formais no País. Sobre a questão, Frank destacou que os dados positivos devem ser vistos com muita cautela. Em 2020, entre março e abril, houve um bimestre muito complicado de recessão forte, com impacto profundo. Com essa base de comparação, muito deprimida, as comparações dão a sensação de que as perspectivas são todas positivas que teremos um 2021 promissor.
Mas é muito importante avaliar e ponderar tudo que aconteceu, aponta Frank. “Se formos analisar, por exemplo, dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, ou PNAD, do IBGE, aproximadamente 10 milhões de pessoas, que foram desligadas entre 2019 e 2020, ainda estão sem ocupação”, ressalta o economista. A crise foi tão profunda que impactou também os trabalhadores informais, fontes de geração de renda significativas para a economia. Em 2021, Frank acredita, haverá uma recuperação lenta e gradual. Ou seja, existe um crescimento contratado para o ano que vem, justamente pela base de comparação que já está bastante deprimida. O que se deve colher, além desse índice base que é de aproximadamente de 2%, é um valor que deve ficar entre 3% e 4%.
Para o economista, a recuperação lenta e gradual deverá acontecer por dois motivos principais. O primeiro dar-se-á por meio da reabertura dos negócios, em função da vacinação, que deverá acontecer de forma paulatina, não do dia para a noite. O segundo motivo se deve ao fato de que todos os agentes da economia, consumidores, empresários e o próprio governo, vão passar por um processo de redução de dívidas. O que é chamado de ‘desalavancagem da economia’. Estes agentes se endividaram nos priores momentos da crise e precisarão reduzir o seu consumo, no caso das famílias, das contratações para empresários. Para acumular uma reserva de recursos a fim de poder pagar estas dívidas.
Sobre a recuperação de empregos em 2021 e as possíveis contratações para o comércio, Frank acredita que os setores mais prejudicados em 2020 possam liderar os processos de retomada. Os setores mais afetados em 2020 foram os serviços, que incluem diversas categorias que demandam interação social e aglomerações de pessoas. A partir dos protocolos sanitários estabelecidos, esses setores sofreram restrições bastante significativas. Já o comércio e a indústria conseguiram se sair um pouco melhor durante a crise. “Houve uma substituição de consumo de bens, as pessoas passaram a ficar mais tempo em casa ou deixaram de realizar uma viagem, isso gerou uma sobra de recursos, e elas passaram a gastar mais com bens industriais”, aponta.
Por outro lado, os exportadores se beneficiaram da alta do dólar e passaram a faturar mais. Alguns nichos do comércio conseguiram minimizar suas perdas, justamente porque tinham algumas opções alternativas como delivery, take away e com o próprio comércio digital. Mesmo dentro do comércio, houve uma segmentação bastante distinta entre os setores, as performances foram muito distintas. Os bens essenciais como alimentação, drogarias e produtos de higiene obtiveram uma resiliência muito maior do que aqueles bens não essenciais, quando é possível postergar a opção de consumo sem prejuízo ao bem-estar, como calçados, vestuário, acessórios foram setores que sofreram muito com a crise. Espera-se que, com o processo de imunização da população, esses setores não essenciais, além de turismos, transportes possam liderar a recuperação dos empregos em 2021.
No âmbito local, em Porto Alegre, também houve uma dicotomia grande entre os bens não essenciais e essenciais. Ao comparar a Capital com outras regiões do Estado, é possível fazer isso por meio dos dados das notas fiscais eletrônicas emitidas pelo RS durante 2020, Porto Alegre e a Região Metropolitana foram as que mais sofreram o impacto da pandemia, havendo uma retração mais significativa em comparação com outras localidades do Estado. As medidas de distanciamento social foram muito mais duras na Capital, portanto, Porto Alegre está mais atrás no processo de retomada econômica. Por isso, existe muito trabalho pela frente e a necessidade da criação de medidas que possam estimular o processo econômico e estimular a criação de empregos para que a Capital atinja melhores condições.
A Capital está ainda em um processo de destruição de empregos formais, ao passo que outros locais do interior do Estado estão com uma geração positiva de empregos no acumulado do ano de janeiro a novembro. O que se deve esperar é a mesma dinâmica de recuperação, tanto para o Estado quanto para o Brasil. Os setores dos bens não essenciais e de serviços são esperados para a geração de mais emprego em 2021, refletindo uma situação de normalidade. A partir da melhora do ponto de vista sanitário, pelo menos por parte da população, é possível que leve a um efeito benigno para a atividade econômica. Pois, quando isso começa a acontecer, já gera uma sensação positiva entre as pessoas que ficam mais propensas a gastarem com bens e serviços. Muitas vezes, o consumidor, as famílias, têm dinheiro no bolso, mas se enxergam nuvens no horizonte, alguma incerteza, não realizam esse desembolso. A partir do não avanço da pandemia, o consumidor fica mais estimulado e propenso a gastar com bens e serviços.
O fechamento de algumas lojas com grande história na Capital foi um sinal de que a recessão foi muito forte. Mas, como lição da pandemia, Frank ressalta uma mensagem mais positiva. “A imensa capacidade que o ser humano tem de se adaptar, se ajudar, trazer sua experiência para compartilhar com os outros e amenizar um pouco dos prejuízos que aconteceram ao longo de 2020. Todos nós tivemos que alterar nossas rotinas, lidar com situações novas e inimagináveis até 2019. Eu, por exemplo, estou em home office e é algo que tende a gerar muitas transformações do ponto de vista de utilização de espaços de gestão de estoques, então isso vai mudar profundamente a forma de como a gente enxerga a economia e o dia a dia das empresas das pessoas, porque é isso o que realmente importa”, destaca e finaliza: “Sairemos muito melhores com esses aprendizados obtidos em 2020 e isso irá gerar um maior crescimento a partir de 2021 em diante”.